Estou assistindo a um programa de TV chamado “This is Us”. O programa é sobre as histórias familiares, desde a juventude do casal até a velhice. Cada episódio mostra cenas do passado e do presente. Ambas as cenas trazem à tona os sentimentos relacionados à uma situação ocorrida, bem como como essas impressões afetam cada personagem em sua alma, memórias, comportamento, escolhas e caminhos na vida adulta.
Como é essa família?
Rebeca, a esposa, pretende se tornar cantora. Jack, o marido, pretende ter uma boa família, ser um bom marido e pai. Eles tiveram trigêmeos, 2 meninos e uma menina, mas um deles não sobreviveu. No mesmo dia em que nasceram, um bebê negro foi abandonado no hospital. Eles adotaram esse bebê e o chamaram de Randal, e os outros dois de Kevin e Kate. Eles os chamam de “Os três grandes”.
Bem, a história é sobre as memórias pessoais desses personagens e os sentimentos sobre o relacionamento da família. O primeiro episódio começa com o aniversário de 36 anos dos trigêmeos. Mesmo que Randal não seja um irmão biológico, os três têm o relacionamento típico de gêmeos: vínculo estreito, consciência aguçada um do outro, sensações semelhantes na alma e um relacionamento próximo. As lembranças e os sentimentos chegam a cada um deles sempre que surge uma sensação relacionada à vivência da infância.
Na medida em que as histórias familiares se desenvolvem, podemos ver claramente como as emoções são atemporais; o modo como nossas experiências de infância marcam nossa alma; como ficamos presos neles, na maioria das vezes sem nem saber ou perceber; como nos trazem dor, sofrimento e dificuldade nos relacionamentos da nossa vida adulta.
Os Pais
Os personagens Rebeca e Jack, os pais, desenvolvem suas memórias sobre a própria infância, assim como os trigêmeos. Além disso, podemos ver claramente as reações e comportamentos desenvolvidos a partir dessas “prisões”.
Jack era um homem trabalhador, provedor e amoroso com sua esposa e filhos. Ele tinha uma presença forte na família. O pai de Jack era alcoólatra e sempre o desqualificava. Desde a infância pudemos ver seu senso de cuidado; primeiro sobre seu irmão, depois com a família.
O pai de Rebecca desaprova o casamento por Jack ser pobre e sem perspectiva para dar uma boa vida à sua “princesa”. Eles foram casados por 22 anos. Rebecca era cantora e pretendia seguir essa carreira quando conheceu Jack. Ela também é forte, protetora de seus filhos e acompanha tudo o que está acontecendo com eles. Jack e Rebecca são amorosos e respeitosos um com o outro.
Esse é o enredo base destas histórias familiares, mas também aborda assuntos transversais como: os filhos tentando ser perfeitos para os pais, compulsão alimentar, alcoolismo, sexualidade, luto não resolvido, profunda influência do pai em suas vidas, em suas escolhas (Jack morreu quando eles tinham 17 anos), amor e afetividade, conflitos, ética, relacionamento familiar e social, adoção, valores familiares e desafios da vida.
Em uma visão psicológica dessa família, podemos perceber que eles desejam que os filhos sejam perfeitos e mais unidos; por isso o apelido “os três grandes” que se refere a eles.
Os Filhos
Sempre que uma das crianças tem um problema, ela pede ajuda à outra, mesmo quando adulta. Os cônjuges e outros relacionamentos ficam muitas vezes em segundo plano a pedido de um dos irmãos. Eles têm diferentes conflitos internos. A maneira como cada um deles lida com suas emoções reprimidas em suas histórias familiares afeta o seu comportamento, os seus corpos e os seus relacionamentos.
Kate era uma menina gordinha que se refugiava na comida. Após a morte do pai, ela começou a comer cada vez mais, ficou obesa e com complexo de inferioridade porque se culpa pela morte do pai.
Kevin era um garoto que não tinha limites em alguns comportamentos. Ele desenvolveu uma forma sedutora de conseguir o que queria para ter prazer. Esse comportamento desencadeou uma sexualidade precoce e um comportamento irresponsável com seus relacionamentos. Ele tem uma busca insaciável por auto-afirmação, por ser reconhecido e admirado. Ele estava constantemente à procura de fama e seduzindo mulheres. Ele não conseguia manter um relacionamento estável como seus pais mantinham.
Randall desenvolveu distúrbio respiratório quando não conseguia fazer algo perfeitamente ou fazia algo errado. Jack constantemente diz que ele era especial, inteligente e importante. Ele planeja todas as coisas, agenda suas tarefas e deseja mudar o mundo. Ele tem medo de falhar.
À medida que lidam com sentimentos reprimidos, seu comportamento muda e passam a lidar melhor com as situações. O corpo não exclui os registros, apenas os transforma. As memórias são fantasmas que vagam vivos dentro da alma. Eles buscam saídas para seus fantasmas, mas como não conseguem encontrar uma porta de entrada, estes acabam se tornando sintomas.
As memórias nas histórias familiares
Nossas memórias emocionais estão em nosso corpo, distribuídas em nossas células, tecidos, músculos e vísceras. O cérebro nomeou as emoções e nos deu seus nomes, mas a energia da emoção caminha em nosso corpo.
William Reich, pai da psicoterapia corporal, mostra-nos onde estão, onde se manifestam. Ele dividiu o corpo em 7 segmentos, cada emoção e todos os grupos de órgãos, tecidos em contatos funcionais. Em sua perspectiva, o soma influencia a psique, assim como a psique condiciona o soma.
Psique e soma são uma unidade funcional e precisam estar em equilíbrio energético para uma saúde real. Em cada segmento estão envolvidos todos os tecidos e órgãos relacionados a ele.
Segmentos corporais:
Segmento ocular – olhos, ouvidos e nariz
Emoção – Alarme, medo, pânico
Segmento oral – boca
Emoção – dependência, nojo, raiva, agressividade
Segmento cervical – pescoço
Emoção – medo de cair, de morrer, controle, orgulho
Segmento torácico – tórax
Emoção – tristeza, nostalgia, raiva, angústia, amor-ódio
Segmento diafragmático – diafragma
Emoção – ansiedade, hostilidade, serenidade
Segmento abdominal – abdômen
Emoção – cólera, dor, desespero
Segmento pélvico – pelve
Emoção – excitação, prazer, potência, moralismo, destrutividade
Voltando ao olhar psicológico sobre as histórias familiares, podemos ver sentimentos em cada um deles com comportamentos disfuncionais, dores não resolvidas, alguns segredos entre eles que aparecem na forma de raiva, ansiedade, compulsões, medo, pânico, controle e lutas em seus relacionamentos .
À medida que cada um trabalha suas dores, seu funcionamento se torna mais leve e saudável. É importante reconhecer nossos sentimentos, dores e nossos comportamentos para encobrir a dor. Só assim o fantasma sai.