A vida passa, um dia após o outro. As asas foram cortadas, os voos foram podados precocemente. O corpo revela a história de cada história vivida. As marcas se fazem presentes. O tempo emocional vivido é atemporal, aconteceu ontem, mas é real hoje e será atual amanhã. O corpo não apaga os registros, eles apenas se transformam. As recordações são fantasmas que perambulam vivos dentro da alma. Buscam saídas mas não encontram o portal de passagem. Deixamos de viver a transparência, a leveza do vôo, a ingenuidade despretensiosa. Deixamos de usufruir a presença do outro simplesmente por neuroses, por toxinas sociais que envenenam a pureza do encontro.
Como se livrar destas toxinas peçonhentas? Como lidar com a peste emocional que circula na mente da sociedade? Talvez ao tomar consciência dos venenos circulantes seja possível se afastar deles; também buscar a despoluição da criança que transpira a sinceridade, espontaneidade e a transparência autêntica despretensiosa; ser livre para amar, para voar, para experimentar! Reconhecer as “tesouras” sociais e se afastar delas. Permitir que as asas cresçam novamente, e se tornem robustas para altos vôos, seguros e firmes. Vôos escolhidos e planejados.
A alma busca limpeza, leveza, busca respiração despoluída, busca espaço para pulsar e expandir. Isto só acontece através de movimentos do interior para o exterior, rítmicos e constantes, movimentos ondulatórios e perenes como as ondas do mar.
O equilíbrio chegará quando a pulsação tiver espaço para não sucumbir diante das pressões externas que engolem a autenticidade. O equilíbrio chegará quando as amarras forem soltas, forem despregadas da carne. O equilíbrio chegará quando houver paz interna frente a situações dialéticas: ser ou deixar de ser, ser ou se corromper, ser ou se prender, transparecer ou se mascarar, transparecer ou se fechar.
A escolha equilibrada se direciona para a possibilidade de ser e passa cada vez mais a se tornar real e verossímil. A escolha equilibrada passa a ser experimentada com mais tranquilidade e despreocupação, gradativamente se torna mais possível…
É viável ser mais eu!!!
Léa Rocha Lima e Marcondes
16 /10/2003